28 | Coleção CIEE 139
casa e disse a minha mulher que, como no tempo difícil, eu fui cas-
sado pelo Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968. Perdi
10 anos de direito político, perdi toda a minha vida de carreira no
magistério, perdi, sobretudo, meu mandato. Mandato que não era
meu, o povo é que me deu. Quero lhes dizer que teria direito, pela
Comissão de Anistia, a uma belíssima reparação em dinheiro alto,
mas recusei. Ninguém viu nem verá requerimento meu pedindo
indenização. Minha condição é a de quem chegou aonde está sem
ser parasita da nação, e com plenas condições de fazer uma análise
do que se passa no Brasil.
AFINAL, O QUE ACONTECE?
O que houve com essa escandalosa fisiologia política, com a
compra de votos contrária à admissão do
impeachment
? Por
meio de cargos, emendas, nomeações, alguns parlamenta-
res (salvo honrosas exceções, que sempre existem) foram ven-
cidos e submetidos, dia após dia, à expressão “querem afastar
a presidência com um golpe”, como se todo o povo fosse um
amontoado de tolos, de bobos ou bastardos de discernimento.
Obviamente, isso me faz lembrar o que eu havia comentado
com o Ives: Guimarães Rosa, em Sagarana, disse que “A cor-
cunda do bobo é poleiro do esperto”. É o que se vê hoje por aí.
Observem por que lhes digo isso: porque lutamos com as mais
variadas crises, mas a de caráter me parece a maior de todas.