26 | Coleção CIEE 139
Isto não é improviso de minha parte, está escrito aqui, com toda a
responsabilidade que eu tenho ao longo dos meus 84 anos de idade
e de 40 de amizade com Ives, de conhecê-lo bem de perto, para não
me impressionar senão com aquilo que ele tem por dentro. Foi ele
que tomou a decisão que antecedeu o primeiro passo. Observem
isso. Todo mundo diz: “Uma longa caminhada começa com o pri-
meiro passo”. Foi Confúcio que disse isso. Eu não sou Confúcio,
eu não tenho o ardor ou a inteligência dele, mas acho que o signifi-
cado não é bem esse. Acredito que a frase deveria ser: “Uma longa
caminhada começa com a decisão que antecede o primeiro passo”.
A decisão que antecedeu foi certamente de Ives Gandra Martins.
Por isso, quando eu vejo o título que dá motivo a esse meu modesto
pronunciamento – “A realidade brasileira atual e a imensidão do
problema” –, eu dou uma resposta ao povo brasileiro. Quem come-
çou, quem teve a decisão que antecedeu o primeiro passo? Em ver-
dade, digo eu, a situação política do Brasil, qualquer que seja o seu
ângulo, está na pior das encruzilhadas. De um lado, a timoneira da
República, acossada por um pedido legal de
impeachment,
passou
a usar o Palácio do Planalto, lugar de despacho que só por ser o que
representa deveria merecer respeito, para reuniões da mais rasteira
politicalha, o que a cercou da inapreensível e movediça fronteira
que separa a figura do estadista do político corriqueiro.
Eu quero fazer aqui umparêntesis. Eu fui político ao longo de algum
tempo e não estou aqui fazendo nenhuma análise de cunho polí-
tico. Quero dizer que não faço parte de nenhum partido político.