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ne, o zoólogo e compositor Paulo

Vanzolini, o ambientalista Paulo No-

gueiraNeto, o físico JoséGoldemberg

e o economista DelfimNetto.

Com longa carreira no ensino uni-

versitário, iniciada pelo então gra-

duando de sociologia professor assis-

tente no curso de sociologia da Uni-

versidade de São Paulo entre 1942 e

1948 e aposentando-se na mesma

USP em 1978 como professor titular

da nova disciplina de teoria literária e

literatura comparada, continuando a

lecionar na pós-graduação como

orientador de teses.

Em 1945, o lançamento do livro

Brigada ligeira

, definido pelo crítico

Alfredo Bosi como a síntese mais feliz

da crítica brasileira no século 20, dá

início a uma bibliografia que atingiria

seu ápice em 1945 com a

Formação

da literatura brasileira

, livro que con-

tinua balizando muitos cursos de le-

tras pelo país afora. Sua bibliografia é

enriquecida por ensaios sobre Ma-

chado de Assis, Graciliano Ramos e

Oswald de Andrade, artigos que re-

conheceram talentos de escritores

como Clarice Lispector e obras que

registram uma visão abrangente so-

bre o Brasil, na sequência da linha de

pensadores como Gilberto Freyre,

Caio Prado Jr. e Sérgio Buarque de

Holanda – todos irmanados pelo an-

seio de modernização e de qualidade

estética e teórica.

Registra ainda a reportagem de

Agitação

que a percepção da comple-

xidade do país, do mundo e dos seres

levouAntonioCandido a participar da

criação de publicações para a difusão

do pensamento. Nas dezesseis edições

da lendária revista Clima (1941-44),

abriu espaço para um grupo de inte-

lectuais que marcaria a cena cultural

brasileira, como Paulo Emílio Salles

Gomes, Décio de Almeida Prado e

Gilda deMoraes Rocha, comquemse

casou. Também ajudou a modernizar

o jornalismo cultural com a elabora-

ção do projeto do Suplemento Literá-

rio do Estadão (1956). Sua atuação não

se limitou ao campo das ideias, mas

chegou àmilitância política, como um

dos fundadores do Partido Socialista

Brasileiro (1947) e do Partido dos Tra-

balhadores (1980).

Ao destacar a importância da

contribuição de Antonio Candido à

educação, tanto como pensador

quanto como professor que moldou

a mente de dezenas de gerações de

estudantes, Celso Lafer – ele mesmo

um ex-aluno do mestre – enfatiza

que, mesmo sempre se mantendo um

homem de esquerda, ele nunca con-

fundiu a difícil tarefa da construção

do saber com o oportunismo da po-

litização do conhecimento.

A avaliação sobre a qualidade do

ensino brasileiro poucomudou desde

2003 e, assim mesmo, as mudanças

implementadas talvez não tenham

seguido o norte correto, como pro-

vam os discutíveis resultados de vá-

rias medidas adotadas a pretexto de

democratizar a educação, mas que

privilegiam o acesso ao ensino supe-

rior, em cuidar da qualidade do ciclo

fundamental. “A nossa situação é la-

mentável, porque fizemos muita coi-

sa positiva em vários setores, mas

não conseguimos estabelecer uma

boa instrução básica para todos, ao

contrário de vizinhos como a Argen-

tina e o Uruguai. É impressionante no

Brasil o abismo entre uma instrução

superior de alta qualidade e a igno-

rância generalizada emque foi deixa-

do o pobre”, declarou ele em entrevis-

ta a

Agitação

, logo após ser eleito

Professor Emérito 2003.

Para o escritor e crítico com lon-

ga trajetória dedicada à literatura, era

inquietante a perda do hábito de lei-

tura, principalmente entre os jovens.

“É desagradável saber que só na cida-

de de Buenos Aires há mais livrarias

do que em todo o Brasil, cuja popu-

lação é cinco vezes maior que a da

Argentina (relação que ainda se man-

tém).” Ele classificava a literatura for-

madora (que aprofunda o saber e a

sensibilidade, diferenciando-se da li-

teratura informativa) como um po-

deroso instrumento de humanização

da personalidade e indispensável à ci-

vilização. “Por isso, digo que há um

direito à literatura como há direitos à

liberdade de pensamento e a uma vi-

da materialmente digna.”

Ao morrer aos 99 anos, na sexta-

feira, 12 de maio de 2017, Antônio

Candido foi lembrado por críticos,

admiradores, alunos e leitores como

o último representante de uma gera-

ção que deu ao Brasil expoentes,

além dos já citados, como Mário de

Andrade, Carlos Drummond e Os-

car Niemeyer.

Jacyra Octaviano

PRINCIPAIS OBRAS

DE ANTONIO

CANDIDO

1959

Formação da literatura

brasileira

(estudo sobre os

movimentos árcade e

romântico)

1964

Parceiros do Rio Bonito

(tese defendida na USP, com

estudo histórico, antropológico

e sociológico sobre a figura do

caipira)

1970

Vários escritos

(ensaios

sobre autores brasileiros, como

Machado de Assis e

Guimarães Rosa)

1993

Estudo analítico do

poema

(sobre o gênero,

enfocado desde as formas

mais rígidas até as mais livres)

1997

Iniciação à literatura

brasileira

(resumo da

formação das letras nacionais,

do século XIX à atualidade)

2002

Textos de intervenção

(seleção da produção crítica

do autor desde o início dos

anos 1940)

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