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“Combater os

perigos da

Baleia Azul,

game que induz

ao suicídio

implica a

gigantesca

tarefa de

capacitar os

jovens; esse é o

verbo adequado

no seu sentido

principal – fazer

compreender,

convencer –

para enfrentar

armadilhas do

caminho.”

convictos de que a existência era inú-

til. AOrganizaçãoMundial da Saúde

lançou um guia orientando os jorna-

listas a usar de discrição ao divulgar

suicídio de celebridades, de modo a

anular ou reduzir as imitações, na

impossibilidade de evitar publicação.

À propósito da Baleia Azul e do efeito

cascata, o Centro de Valorização da

Vida (CVV) traz um indicador atua-

líssimo: a recente série

13 Reasons

Why,

exibida pela Netflix

.

Ali, a ado-

lescente Hannah Baker se suicida,

movida por

bullying

na escola. Os

pedidos de ajuda à instituição cresce-

ram 445% — de 55 por dia para 300.

Os pedidos, ao menos, revelam o sa-

dio esforço de enfrentar essa espécie

contemporânea de canto das sereias.

Não devemos esquecer as metá-

foras pedagógicas da mitologia grega.

Nos versos de Homero, Ulisses pede

para ser amarrado ao mastro do na-

vio afim de não se atirar ao mar, co-

mo faziam todas as vítimas que pas-

savam por aquela ilha do Mar Egeu,

enlouquecidas pela música das se-

reias. A cautela continua necessária.

Antecedendo o verbete suicídio da

Wikipedia, nos resultados da pesqui-

sa no Google, aparece com destaque

o telefone 141 da CVV, intuindo que

a busca pode indicar intenções trági-

cas e oferecendo antecipadamente

um caminho para desesperos extre-

mados. Pesquisas informam que,

anualmente, ocorrem em torno de

um milhão de suicídios no planeta e

de 11 a 20 milhões de tentativas.

Isto posto, creio que, metaforica-

mente, chegamos ao momento de

amarrar nossos jovens nomastro do

navio. Trata-se da gigantesca tarefa

de capacitá-los, eis o verbo ade-

quado no seu sentido principal –

fazer compreender, convencer –

para enfrentar armadilhas do

caminho. Torná-los, enfim,

agentes efetivos do processo

de desenvolvimento, pessoal

e social. Salvo engano, a luta

contra as drogas talvez já tenha sina-

lizado essa necessidade, consideran-

do o consumo crescente, apesar das

sucessivas campanhas em contrário.

É possível alegar que tenras men-

tes juvenis não estejam prontas para

a magnitude da tarefa, embora sejam

aptas a escolher dirigentes públicos.

Eis outra ambiguidade a ser mais

bem esclarecidas na condução de te-

mas complexos relativos aos jovens.

Além disso, os conhecimentos acu-

mulados pela medicina, psicologia,

pedagogia e ciências afins estão à

mão para dar suporte às famílias nes-

sa frente. Nos tempos de Goethe e de

Chateaubriand o acervo científico era

mais restrito. Cerca de 300 anos após,

o

mal du siècle

parece persistir.

Enquanto isso, é instrutivo olhar

para a Rússia. Há duas versões sobre

a origem da roleta russa, ambas no

século XIX: um teste de coragem

praticado entre oficiais russos ou en-

tre os prisioneiros de guerra. A Baleia

Azul brotou dentro da Vkontakte,

uma rede social semelhante ao Face-

book, criada por volta de 2006. Ali

havia duas páginas – a

Amanhã não

virá

e

Hoje eu vou morrer

, versando

sobre o suicídio. É uma irônica e ins-

tigante coincidência.

CIEE | Agitação

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